O lugar cheirava a tabaco, bebidas e praia. O barulho era insuportável, uma mistura de gritos de dor e risadas, uma briga aqui, uma piada ali, e a voz do leiloeiro, sobrepondo as demais:
- A última peça da noite, senhores!
Ao estalar de dedos do homem, uma jovem garota foi arrastada até o palco improvisado, acorrentada e vestida de forma provocante. Apesar da situação, a menina mantinha a cabeça erguida e tentava se soltar a todo custo, em vão. Os olhos castanhos, maquiados para a ocasião, vasculhavam por todo o salão, como se procurasse alguém, ou, quem sabe, alguma esperança. Nada. Abaixou o rosto, suspirando, controlando-se para não chorar.
No fundo do bar, em uma mesa colada a parede, uma figura de capuz bebia uma garrafa de rum, direto do gargalo. Era a sua quinta ou sexta garrafa, mas, não demonstrava, nem de longe, sinais de embriaguez. Inclinou um pouco o corpo, prestando mais atenção no leilão, jogando o recipiente no chão, escutando o som do vidro quebrando.
- Dez moedas de ouro pela jovem dama! Quem da mais? Eu escutei quinze moedas?- O homem gritava, chamando a atenção de todo o bar. Entretanto os olhos estavam grudados na jovem, que se debatia cada vez menos. Lutar era inútil. Só lhe restava agora rezar para que fosse comprada por alguma alma bondosa.
- Eu dou quinze!
- Pago vinte por ela!
Os lances subiam pouco a pouco. Era uma competição acirrada e o prêmio, uma bela mulher.
Voltemos ao fundo do local. Enquanto alguns gritavam os seus valores, o homem encapuzado se levantou, andou até o senhor baixinho que organizava o leilão e disse:
- Duzentas moedas de ouro pela chica, señor.
O silêncio reinou por alguns minutos. Aquele sotaque era inconfundível e estranho para os demais. Um intruso. Sem contar que, ninguém pagaria tão caro por uma escrava qualquer. O som de passos se aproximando do estrangeiro e uma espada sendo desembainhada quebrou a quietude momentânea. O capuz cortado. Olhos verdes se encarando.
- Well, well... O que temos aqui! Antonio Fernandez Carriedo em carne e osso! - exclama um homem loiro, dono do local.
- Kirkland... - O espanhol coloca a mão sobre a própria espada, puxando-a um pouco. Não vim para brigar. Fiz uma oferta pela garota e duvido que alguém aqui cubra o meu lance. Vou pegar a niña e ir embora.
- Você vem até o meu território, sozinho, só com uma espada e ainda acha que vai sair vivo? Are you mad? - O inglês solta uma gargalhada, acompanhada pelos outros homens do lugar.
- Tenho certeza que vou. Você é um homem justo, Arthur. Vai me deixar ir. - Estende o saco de moedas, o rosto neutro. Me entregue a chica e eu vou embora. Sem sangue.
- No bloody, you say! E a diversão? - Os olhos verdes do loiro brilham de expectativa, a espada apontada para a garganta do moreno.
- Não, Arthur. Eu só quero a garota.
O britânico solta um suspiro frustrado. Abaixa a espada, um sorriso convencido nos lábios.
- Very well. Deixo você ir. Já peguei o que eu queria. - Vira o rosto e encara o empregado. Solte-a. - ordena, embainhando a espada, dando as costas para o espanhol, voltando a sua mesa.
O leiloeiro vai até a mulher e retira as algemas. A jovem, que até o momento observava a cena calada, correu até o latino, abraçando-o forte, chorando baixinho:
- Spagna! Achei que nunca mais iria te ver!
- Shh... Calma, mi amor. Calma.
- Calma nada! Você não sabe o que eu passei e--
- Eu sei, cariño. Eu sei. - Abraça pela cintura, andando apressado, querendo sair o mais rápido possível daquele lugar maldito, antes que o inglês mudasse de ideia. Abre a porta, sentindo o cheiro de maresia, fechando o semblante ao escutar o outro pirata gritar ao fundo:
- Eu já descobri onde atacar, Antonio! Agora é questão de tempo! Ahahaha!
Ela não estava mais segura. Tinha que esconde-la, de tudo e de todos. Porque ela era o seu mundo, seu ar e sua motivação para desbravar os sete mares. Ela era o seu grande amor e seu ponto fraco.
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Não me pergunta o que diabos foi isso, eu também não sei.
Não consigo dormir e amanhã é dia de enem.
Deus me ajude. '-'
Well, vou indo ou me matam.
Câmbio e desligo.
